Deixe o rapaz descer o escorrega sozinho!
Proteger as crianças, sim. Atrofiá-las, não. Se é do tipo enervadinho, sempre com medo que algo de mal lhes aconteça, não leve os miúdos ao parque. Arranje alguém mais descontraído que os deixe brincar à vontade. E cair de vez em quando.
Os parques infantis existem para que as crianças corram, saltem, gritem, ponham à prova as suas capacidades físicas, desafiem medos, ultrapassem obstáculos, brinquem com outras crianças e até se zanguem com elas. Tudo a bem do seu desenvolvimento.
Se é óbvio que os adultos devem estar atentos aos riscos, também devem dar espaço para que o miúdo explore, falhe, chore, caia, se magoe e se levante. Crescer é assim.
Pelo “facto de existirem cada vez mais famílias com filhos únicos e pais tardios, a tendência é termos, cada vez mais, pais protectores dos seus filhos, que por serem tão ansiosamente desejados e vistos como um ‘projecto’ a incluir numa sociedade cada vez mais competitiva, são mais protegidos e salvaguardados das experiências do dia-a-dia”, diz a psicóloga Maria José Mandim. E acrescenta: “No entanto, quando a protecção se torna excessiva, compromete o desenvolvimento da criança. É importante deixarmos queestas tenham tempo de exploração, para um desenvolvimento saudável.”
Especializada em neuropsicologia, esta colaboradora do Centro de Desenvolvimento Infantil Diferenças, descreve algumas consequências da superprotecção: “Acaba por criar uma enorme ansiedade nas crianças, tornando-as adultos inseguros; contribui para a perda de autonomia, não permitindo que desenvolvam mecanismos de resolução de problemas e tomada de decisões ao longo da vida, gerando dificuldades no relacionamento com os outros.”
Sem preparação “para enfrentar o mundo à sua volta”, a criança “não conseguirá lidar com as frustrações”, o que lhe “provocará dificuldades ao nível do desenvolvimento emocional”.
Segundo Maria José Mandim, que acompanha crianças e jovens, mas também ajuda adultos e idosos na cidade da Maia, a protecção excessiva “limita as possibilidades de acção e criatividade”.
Poucos vão a pé para a escola
O receio de deixar as crianças sozinhas tem vindo a aumentar, como recordou Hanna Rosin no artigo “The overprotected kid” (The Atlantic), publicado no Dia do Pai deste ano (19 de Março). A jornalista recuperou os dados de um estudo de mobilidade autónoma das crianças, realizado em áreas urbanas, suburbanas e rurais no Reino Unido. Aí se mostra que, em 1971, 80% dos alunos da então 3.ª classe iam sozinhos a pé para a escola. Em 1990, a percentagem já era de apenas 9%. “E agora é ainda mais baixa”, escreveu Hanna Rosin.
A justificação para estes receios dos pais é quase sempre a de que o mundo se tornou mais perigoso. Mas o perigo, dizem os especialistas em educação, é deixarmo-nos dominar por esse medo e transmiti-lo aos nossos filhos.
Nalguns países, a preocupação excessiva com a segurança “tornou os parques infantis bastante maçadores, sem desafios ou estímulos para as crianças”. Opinião de Ellen Sandseter, educadora de infância em Queen Maud University College, Trondheim (Noruega), que fez uma tese de mestrado sobre os adolescentes e a sua necessidade de correrem riscos. Concluiu que alguns jovens, se não puderem alimentar esse desejo de formas socialmente aceitáveis, acabarão por ter comportamentos muito mais imprudentes e mesmo perigosos.
Esta educadora, ainda segundo o artigo do The Atlantic, concluiu que mesmo as crianças mais pequenas têm necessidade de experimentar o perigo e a excitação. “Mas não significa que o que fazem seja realmente perigoso. Simplesmente, têm a sensação de que estão a correr riscos. Ficam assustados, mas depois superam o medo.” E gostam disso.
A emoção de decidir sozinho
Na sua tese, Ellen Sandseter identificou seis tipos de “brincadeiras arriscadas”, que podemos resumir assim:
1. Explorar as alturas (subir suficientemente alto para sentir medo);
2. Manipular ferramentas perigosas (tesouras e facas afiadas);
3. Aproximar-se do fogo ou de grandes superfícies de água em zonas perigosa: mar, rios, lagos;
4. Andar à pancada;
5. Experimentar a velocidade (andar de bicicleta muito depressa e sentir a vertigem da aceleração);
6. Explorar sozinho (aventurar-se por conta própria).
Para esta educadora e também mãe, este último ponto é dos mais importantes para as crianças e para o seu desenvolvimento: “Quando são deixadas sozinhas, têm de assumir a responsabilidade dos seus actos e arcar com as consequências das suas decisões – uma experiência emocionante.” E afinal aquela que mais se repetirá nas suas vidas de adultos.
É também por isso que Maria José Mandim reforça a ideia de que “a aprendizagem ao longo da vida ocorre por tentativa e erro, por meio de experiências”. Assim, “para evitar exageros, é necessário os pais procurarem o bom senso para equilibrar a protecção no sentido de apoiarem os filhos em situações stressantes e perigosas, mas não os privando da vivência das experiências dessas situações”.
Conclusão (e não culpabilização): “Devemos ser pais atentos, mas não obsessivos. Há que encontrar um equilíbrio entre proteger e dar espaço para o crescimento.” Por vezes, cai-se.
Se é óbvio que os adultos devem estar atentos aos riscos, também devem dar espaço para que o miúdo explore, falhe, chore, caia, se magoe e se levante. Crescer é assim.
Pelo “facto de existirem cada vez mais famílias com filhos únicos e pais tardios, a tendência é termos, cada vez mais, pais protectores dos seus filhos, que por serem tão ansiosamente desejados e vistos como um ‘projecto’ a incluir numa sociedade cada vez mais competitiva, são mais protegidos e salvaguardados das experiências do dia-a-dia”, diz a psicóloga Maria José Mandim. E acrescenta: “No entanto, quando a protecção se torna excessiva, compromete o desenvolvimento da criança. É importante deixarmos queestas tenham tempo de exploração, para um desenvolvimento saudável.”
Especializada em neuropsicologia, esta colaboradora do Centro de Desenvolvimento Infantil Diferenças, descreve algumas consequências da superprotecção: “Acaba por criar uma enorme ansiedade nas crianças, tornando-as adultos inseguros; contribui para a perda de autonomia, não permitindo que desenvolvam mecanismos de resolução de problemas e tomada de decisões ao longo da vida, gerando dificuldades no relacionamento com os outros.”
Sem preparação “para enfrentar o mundo à sua volta”, a criança “não conseguirá lidar com as frustrações”, o que lhe “provocará dificuldades ao nível do desenvolvimento emocional”.
Segundo Maria José Mandim, que acompanha crianças e jovens, mas também ajuda adultos e idosos na cidade da Maia, a protecção excessiva “limita as possibilidades de acção e criatividade”.
Poucos vão a pé para a escola
O receio de deixar as crianças sozinhas tem vindo a aumentar, como recordou Hanna Rosin no artigo “The overprotected kid” (The Atlantic), publicado no Dia do Pai deste ano (19 de Março). A jornalista recuperou os dados de um estudo de mobilidade autónoma das crianças, realizado em áreas urbanas, suburbanas e rurais no Reino Unido. Aí se mostra que, em 1971, 80% dos alunos da então 3.ª classe iam sozinhos a pé para a escola. Em 1990, a percentagem já era de apenas 9%. “E agora é ainda mais baixa”, escreveu Hanna Rosin.
A justificação para estes receios dos pais é quase sempre a de que o mundo se tornou mais perigoso. Mas o perigo, dizem os especialistas em educação, é deixarmo-nos dominar por esse medo e transmiti-lo aos nossos filhos.
Nalguns países, a preocupação excessiva com a segurança “tornou os parques infantis bastante maçadores, sem desafios ou estímulos para as crianças”. Opinião de Ellen Sandseter, educadora de infância em Queen Maud University College, Trondheim (Noruega), que fez uma tese de mestrado sobre os adolescentes e a sua necessidade de correrem riscos. Concluiu que alguns jovens, se não puderem alimentar esse desejo de formas socialmente aceitáveis, acabarão por ter comportamentos muito mais imprudentes e mesmo perigosos.
Esta educadora, ainda segundo o artigo do The Atlantic, concluiu que mesmo as crianças mais pequenas têm necessidade de experimentar o perigo e a excitação. “Mas não significa que o que fazem seja realmente perigoso. Simplesmente, têm a sensação de que estão a correr riscos. Ficam assustados, mas depois superam o medo.” E gostam disso.
A emoção de decidir sozinho
Na sua tese, Ellen Sandseter identificou seis tipos de “brincadeiras arriscadas”, que podemos resumir assim:
1. Explorar as alturas (subir suficientemente alto para sentir medo);
2. Manipular ferramentas perigosas (tesouras e facas afiadas);
3. Aproximar-se do fogo ou de grandes superfícies de água em zonas perigosa: mar, rios, lagos;
4. Andar à pancada;
5. Experimentar a velocidade (andar de bicicleta muito depressa e sentir a vertigem da aceleração);
6. Explorar sozinho (aventurar-se por conta própria).
Para esta educadora e também mãe, este último ponto é dos mais importantes para as crianças e para o seu desenvolvimento: “Quando são deixadas sozinhas, têm de assumir a responsabilidade dos seus actos e arcar com as consequências das suas decisões – uma experiência emocionante.” E afinal aquela que mais se repetirá nas suas vidas de adultos.
É também por isso que Maria José Mandim reforça a ideia de que “a aprendizagem ao longo da vida ocorre por tentativa e erro, por meio de experiências”. Assim, “para evitar exageros, é necessário os pais procurarem o bom senso para equilibrar a protecção no sentido de apoiarem os filhos em situações stressantes e perigosas, mas não os privando da vivência das experiências dessas situações”.
Conclusão (e não culpabilização): “Devemos ser pais atentos, mas não obsessivos. Há que encontrar um equilíbrio entre proteger e dar espaço para o crescimento.” Por vezes, cai-se.
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